Diário da Região destaca tradição da Império

08/06/2012 10:44
São José do Rio Preto, 08/06/2012

Desfile de hoje tenta reinventar o carnaval de Rio Preto

Joana Teixeira, da Império do Sol, faz ajustes em fantasia

Joana Teixeira, da Império do Sol, faz ajustes em fantasia(Fotógrafo Edvaldo Santos)

A decadência do carnaval de rua de Rio Preto fez a Prefeitura mudar a estratégia e encarar o desafio de reinventar a festa. Com apenas duas escolas de samba na avenida, uma delas de um projeto social, não haverá briga pelo título. Para atrair o público, o município teve de adotar festa semelhante a de cidades vizinhas, com shows de diferente gêneros. A única escola de samba que aceitou desfilar recebendo verba a menos de um mês do carnaval foi a Império do Sol, uma das mais antigas da cidade. Passa também, hoje, pela avenida a escola de samba do Projeto Viva, que reúne jovens carentes da região norte da cidade, e o bloco “Alegria no trânsito”.

Com a ausência de outras escolas de samba, que se recusaram a desfilar ou pelo atraso na liberação da verba ou por falta dela, a Secretaria Municipal de Cultura resolveu investir em uma grade de programação com shows de axé, samba e sertanejo para atrair os foliões. “Há dois anos não tivemos carnaval. Ano passado tivemos um dia só. O que pensei é fazer uma virada no carnaval de Rio Preto. Algo de diferente precisava ser feito, senão acabaria”, afirmou Antônio Carlos Parise, responsável pela pasta.

Além de toda a estrutura para o desfile na avenida Duque da Caxias, a mesma utilizada no ano passado, com arquibancada para 4 mil pessoas, foi montado um palco para show e seis tendas de 10 por 10 metros para proteção da chuva. No chão de terra foram colocados pedriscos para evitar o barro. Serão 44 banheiros, quatro deles para deficientes físicos. O espaço para desfile e shows será fechado e todos os foliões serão revistados na entrada, medida para dar maior segurança. A avenida Duque de Caixas permanece interditada entre a rua Bernardino de Campos e avenida Murchid Homsi hoje e amanhã das 17 horas até às 3 horas.

Desfile

A folia do Momo começa hoje às 20h30 com o desfile das escolas de samba. Quem abre a passarela é o bloco “Alegria no trânsito”, composto por 130 crianças. Logo depois entra em cena a Escola de Samba do Projeto Viva, com o tema “Prevenção: Viva sem drogas”. O projeto leva para avenida 668 moradores da região norte da cidade, divididos em 12 alas e três carros alegóricos. A escola conseguiu aliar parceria com empresários ao trabalho de reciclagem de fantasias antigas para concretizar a folia.

Por se tratar de um projeto, não recebeu verba da Prefeitura. “Temos projeto de jornada ampliada sobre a prevenção de qualquer substância química e resolvemos levar isso para avenida. Queremos mostrar que para brincar o carnaval não é preciso o uso de drogas”, afirmou Alexandre Pedroso de Oliveira, coordenador cultural do Projeto Viva. Apesar de revelar o tema, Oliveira faz mistério quanto as fantasias e carros. “Queremos ser uma surpresa”, revelou.

Quem também trabalhou dia e noite nas últimas semanas para manter viva a tradição do carnaval de rua de Rio Preto foi a carnavalesca Joana Teixeira, da Império do Sol, um das escolas mais antigas do município. “Não é porque as outras escolas não vão desfilar que vamos deixar de caprichar. Tudo foi muito bem feito e a escola vai fazer um bom espetáculo”, disse. A Império traz consigo o samba enredo “Água: fonte da vida”, de autoria de Vicente Serroni, presidente da agremiação. Serão cerca de 200 integrantes, além de bateria, baianas e comissão de frente.

Na primeira ala, o verde da natureza será explorado nas fantasias, seguido pelo sol, símbolo da escola. A última ala será exclusiva para o tema água. “Todas elas mostram o que colabora para a existência da água, o nosso bem mais precioso”, afirma Serroni. A escola contra ainda com três carros que vão representar o Palácio das Águas de Rio Preto, a flora, e os mares.

Depois da apresentação das escolas de samba, as atenções serão voltadas ao palco. O grupo Swingueira é quem anima a noite com os ritmos do axé e sambaxé. Ontem, na abertura das festas no local, estavam previstas as apresentações da dupla sertaneja Eros & Eron e do sambista Luiz Ayrão. Amanhã, a estrutura na avenida volta a ser utilizada para o encerramento do carnaval de rua de Rio Preto com o grupo Kibacana, com repertório de axé, seguida por Neguinho da Beija-flor. A animação começa às 21 horas.

Escolas pedem planejamento

As escolas de samba Unidos da Boa Vista, Pérola Negra, Imperatriz Riopretense e Acadêmicos de Rio Preto alegam ter deixado de desfilar este ano pela falta de incentivo, demora na liberação de verba da Prefeitura ou irregularidades de documentação. Para que retornem no ano que vem, elas pedem melhor planejamento e estrutura por parte do poder público.

Enquanto a Unidos não desfilou por falta de tempo, a Imperatriz Riopretense, Acadêmicos de Rio Preto e Pérola Negra não foram para avenida porque não conseguiram dinheiro. A primeira, por ter menos de um ano de existência, não pode receber da Prefeitura. A segunda está com problemas de documentação. Já a Pérola, abandonou o carnaval no ano passado antes mesmo do início do desfile e ainda não conseguiu se reestruturar. Para o diretor da escola, Evair Augusto, o Esquerdinha, não é possível organizar um bom carnaval em um mês.

Rio Preto já teve 8 escolas de samba

O carnaval rio-pretense que hoje agoniza já chegou a ter oito escolas de samba desfilando nos anos 90 e se destacava desde os anos 50 e 60, época que a Prefeitura montava um palco em frente ao colégio Cardel Leme, onde hoje é o Fórum. Foi nessa época que surgiram os maiores nomes da folia do Momo no município, como Charutinho, Tunda, Nelson Batata, Nabuco, Martha Rocha, Sardinha, o Homem Monstro, entre outros. O sucesso da festa era tamanho que era transmitida ao vivo por uma rádio. “Prefeito, chefe de gabinete, deputados, todos participavam. As ruas ficavam abarrotadas de pessoas”, revela o historiador. “O carnaval tinha decoração de rua, barracas, o pessoal assistia na calçada. Além das escolas, o pessoal se fantasiava”, afirma o carnavalesco Vicente Serroni.

O carnaval também era forte nos clubes Monte Líbano, Palestra, Automóvel Clube e o Clube Bancários. Alguns, inclusive, tinham escolas de samba e participavam da festa na rua Bernardino de Campos, entre as ruas Independência e Silva Jardim, local que abrigou os desfiles até a década de 80, quando foi transferido para avenida Bady Bassitt. Nos anos seguintes, os desfiles chegaram a ser realizados em outros pontos,como avenida Murchid Homsi, Distrito Industrial, e na própria Represa Municipal, onde acontecem há dois anos. Se para os foliões os anos de ouro foram na década de 50, para as escolas de samba o melhor momento foi na década de 90, quando os desfiles foram realizados nas avenidas Bady Bassitt e Murchid Homsi.

A cidade chegou a ter oito delas disputando o título, entre elas Império do Sol, Unidos da Boa Vista, Pérola Negra, Tigre Dourado, Gaviões do Samba, São José, SambaCedrus (clube Monte líbano) e Sambaderna (Automóvel Clube). “Durante dois anos também teve a Sambacitrus, que era da Bascitrus. Havia mais interesse. Com o tempo isso foi perdendo terreno para outros tipos de atividades, como, por exemplo, outros ritmos musicais”, disse Serroni.

Reportagem: Elton Rodrigues